Para quem aqui anda há muito tempo é uma repetição. Mas amo este texto de Almada Negreiros:
Pede-se a uma criança: - desenha uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis. A criança vai sentar-se no outro canto da sala, onde não há mais ninguém.
Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direcção, outras noutras: umas mais carregadas, outras mais leves: umas mais fáceis, outras mais custosas. A criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase não resistiu. Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era demais.
Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: - uma flor!
As pessoas não acham parecidas estas linhas com as de uma flor!
Contudo, a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça à procura das linhas com que se faz uma flor e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas – são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!
Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direcção, outras noutras: umas mais carregadas, outras mais leves: umas mais fáceis, outras mais custosas. A criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase não resistiu. Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era demais.
Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: - uma flor!
As pessoas não acham parecidas estas linhas com as de uma flor!
Contudo, a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça à procura das linhas com que se faz uma flor e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas – são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!
José de Almada Negreiros – A invenção do dia claro (1921)